No rescaldo dos resultados das eleições italianas as bolsas afundaram, os mercados tremeram (sensíveis esses gajos), a burocracia europeia enviou recadinhos e os políticos do “arco do poder” de norte a sul, de este a oeste do continente desdobraram-se em declarações de preocupação pelo estado de saúde da democracia representativa-capital-parlamentarista. Enfim, se o “partido da ordem” não admite anormalidades – e a sociedade deve ser gerida como uma grande empresa privada, em que todas contradições devem ser recalcadas a bem da estabilidade do sistema/modo de produção e reprodução social capitalista –, admite de forma aberta ou velada que a política é polícia: manda quem pode, obedece quem deve. Eis o sentido de estado.
Em resposta a isso – e também à tibieza dos que empastelam alternativas que não vão além de uma austeridade de baixa intensidade, de soluços keynesianos, ou de um maior controlo estatal da gestão capitalista – a maioria dos cidadãos italianos votam, ou não votam de todo, com o intuito de fazer as urnas ir pelos ares. Evidentemente que isto é um gesto de pura negatividade e meridiana lucidez, o que é muito diferente de ser um gesto irracional ou irresponsável como querem fazer crer muitos analistas bem-intencionados, que vêem em cada esquina e em cada sobressalto o espectro do “populismo” e derivas totalitárias, que não sendo de subestimar, se deve lembrar que historicamente só se puderam substanciar fruto do pânico das elites, e com o seu apoio, e da diligência com que se reprimiram os movimentos e as organizações revolucionárias.
E porquê toda esta tremideira? Porque um comediante e um movimento inorgânico obtiveram uma votação significativa? Porque os candidatos oficiais ou oficiosos dos mercados foram varridos? Porque não se conseguiu uma maioria estável (de palhaços ou de ursos pouco importa) que garanta um ambiente adequado para os Negócios? Tudo isso com certeza, mas sobretudo a hipótese que a negação da situação se comece a transformar numa situação realmente perigosa para o capitalismo, isto é, que se instale uma instabilidade, uma crise positiva que crie, reorganize ou reconstrua formas de organização e relações sociais anticapitalistas que sucessivas derrotas foram destruindo ou marginalizando e que de resto, em Itália, têm uma história muito rica, ainda que muitas vezes trágica.
Parece fácil caricaturar a história política e social da Itália contemporânea – da Itália saída dos “anos de chumbo” –, ora como tragédia ora como farsa, mas essa simplificação encobre que essa tragicomédia, da qual estas ultimas eleições parecem ser apenas mais um episódio entre muitos, foi, e ainda é, o arranjo de poder e de regime que a aliança de todos os reaccionarismos - dos fascismos reciclados e puros da burguesia italiana à Igreja Católica, da Máfia aos serviços secretos nacionais e internacionais passando pela esquerda mais conservadora - operou durante esses “anos de chumbo”, em que as balas zumbiram e o terrorismo de estado instalou o terror para salvar o capitalismo.
E se em Itália todos os que estão, disputam ou querem destruir “o poder”, sabem do que a classe dirigente é capaz para o manter, também saberão que a herança do operaismo, da autonomia, das greves selvagens e das ocupações, dos índios metropolitanos e da Bologna insurrecta – enfim, daquele Maio de 68 que durou dez anos – tem partes muito suculentas.
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