ma sociedade que se autoriza a manter num dia radiante de sol centenas de seres no verão da vida enclausurados sob um inverno neo-taylorista de produção pela produção; de luzes artificiais; de ares-condicionados; de turnos; de supervisores; de coordenadores e de controladores, merece que se ergam por entre os pêlos do seu bigode patriarcal todo o tipo de criaturas que, não obstante (e por) se alimentarem de poucas migalhas do bolo que diariamente fabricam, perderam todas as ilusões e esperanças quanto às virtudes abstractas com que o sistema de racionamento da miséria e da fortuna se auto-alavanca, catapulta e segura; já para não falar do desprezo absoluto pela «ética do trabalho» que os senhores do mundo reinventam à séculos para conservar cada uma das variedades de exploração que a cada momento da história lhes parecem necessárias para manterem nas suas mãos a faca e o queijo das relações sociais.
Contra o chicote «ética do/no trabalho» a arma «ética da/na preguiça»: fazer do nosso «tempo livre» e do nosso «tempo cativo» um tempo total de disrupção - uma arma de fogo -, isto é, fazer um uso empenhado do ócio e um uso ocioso do trabalho. Quando soubermos descansar e trabalhar como queremos (como podemos e devemos), quer dizer, contra a lei que regula que devemos descansar para poder trabalhar e trabalhar para poder repousar, estaremos em condições de afirmar que eles reinam mas não (nos) governam.
Contudo, a tarefa que hoje urge cumprir não é projectar no vazio um paraíso perdido (primitivo/futurista) a haver no fim da civilização do trabalho mas assegurar, desde já, um inferno duradouro aos zelosos funcionários, propagandistas e ideólogos da insuportável perpetuação dos seus últimos dias.
Espatifar a escora que firma o sistema é, em primeiro lugar, e desde o ponto de vista dos que têm de trabalhar para sobreviver (ou sobreviver apesar de não terem posto de trabalho), uma destruição que vem de dentro para fora e que volta à origem; uma consciência que se constrói pela negação, a cada conquista dos momentos e processos destrutivos e desconstrutivos e que regressa ao âmago subjectivo dos que se querem libertar, cada vez mais clara e objectiva. Este fluxo/refluxo construtivo-destrutivo, próprio do acto criativo, não é mais do que o próprio sistema respiratório da revolta, a lenta mas decidida formulação de uma consciência de classe; de uma força emancipatória e revolucionária: quanto mais espaço e tempo conquistarmos para respirar fundo, isto é, quanto maior for o distanciamento critico e fisiológico conseguido face ao ciclo ininterrupto e tautológico do trabalho e do capital no qual estamos emaranhados, mais perto estaremos da libertação almejada, que é o rompimento derradeiro com a mercadoria e o espectáculo.
Assim, enquanto o capitalismo se entretém com a ofegante gestão dos seus exércitos de desempregados, empregados e precários, com os gráficos dos lucros e, sobretudo, com a descoberta de novos e sofisticadíssimos métodos de manter a força de trabalho motivada e ordeira, ocupar-nos-emos - qualquer que seja o nosso posto de não-trabalho - de longos e relaxados exercícios de respiração, através do quais recuperaremos das entorses que o modo de produção capitalista provoca nos nossos espíritos e nos nossos corpos e nos prepararemos para as batalhas do quotidiano.
Vincent Van Gogh
La sieste (d'après Millet)
1889-1890
Júlio Pomar
Gadanheiro
1945
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