“Encontramos, no folclore de muitos povos, heróis ou animais mágicos que, pela primeira vez, se apoderam do fogo, quase sempre subtraindo-o aos deuses. (…). Independentemente do modo como foi obtido, não deixou de ser revolucionário uma vez iniciada a sua utilização, mesmo que as suas capacidades totais só viessem a ser aplicadas mais tarde. (…) Tornou-se igualmente possível cozinhar os alimentos, o que simplificou, por sua vez, o seu consumo: as medulas são facilmente extirpadas de um osso cozinhado, enquanto que a sua extracção de um osso cru é um processo deveras laborioso (…) Para além de uma forma luminosa e calorífera, o lume desempenhou o papel de incentivador do sentimento comunitário através do poder de congregar as pessoas à sua roda, depois de escurecer (…) Finalmente, o fogo terá provocado também divergências entre os membros de cada grupo. Apareceram zeladores e especialistas do fogo, elementos receados e misteriosos, dos quais dependia a sobrevivência do grupo.”
in A Origem do Homem (História Ilustrada do Mundo), J.M Roberts.
Can`t start a fire without a spark
Se existe algo que urge de uma redistribuição radical e anárquica é o (poder de e do) fogo. O fogo pode ser o exército dos amantes a desertar em classe de todas as guerras inúteis (da “Morte”; das “Massas”; das “Identidades”; da “Produtividade” e da “Improdutividade”; da “Acção” e da “Inacção”; do “Activismo” e do “Conformismo”). O exército dos amantes a invadir as cidades alpha e os desertos, as selvas e as savanas – desfazendo-os e desfazendo-se, remixturando-se uns e outras em labaredas semi-conscientes – samples incandescentes daquilo que já fomos, somos e seremos – (re)constituindo-se; as cyber-guerrilhas a tornarem-se carne e osso e unha com carne e órgãos sexuais e sensoriais absolutos; os jovens dos subúrbios de Londres a incendiar e expropriar mercadorias numa noite de Verão; uma enorme fogueira à porta do parlamento no Outono; a raiva no olhar. Uma troca de olhares. Uma troca de roupas. Uma troca de máscaras. Uma troca de gestos. Uma troca de tudo.
O FIM DO MEDO. A MORTE DA MERCADORIA.
De vez em quando um ser humano (o que é isso?) – por si próprio ou em comunidade – redescobre o fogo. Fá-lo sem precisar da autorização dos que zelam dia e noite para o manter afastado das fontes de ignição e dos materiais inflamáveis de que necessita para se fazer incêndio. Não há deuses. Há zeladores que dizem que são de direita, outros que são de esquerda, outros apartidários: a puta que os pariu a todos! A puta que nos pariu a nós!
Os Last Poets escreviam e cantavam que quando a revolução viesse as armas e as espingardas tomariam o lugar dos poemas e dos ensaios. Isto, que eles diziam, escreviam e cantavam, e que qualquer ultimo poeta antes da Revolução devia escrever e cantar, não significa que a “poesia” expelida do cano das espingardas é uma forma estética mais plena ou avançada que a poesia disparada das cargas das esferográficas, das minas dos lápis, do teclado ou da lata de tinta, - o que, na melhor das hipóteses, não seria mais que uma declinação retro-bélico-futurista requentada – ou que algum dia tenha vindo ou venha (par)a substituir esta ultima, mas que quando a insurreição estalar – de modo a não permitir já qualquer recuo aqueles que se dedicavam a actividades poéticas pré-revolucionárias – não se poderá regressar à poesia (seja ela mais apolínia ou mais dionisíaca, mais lírica ou mais anti) até resolver vitoriosa ou derrotadamente o enigma do fogo – que é também o enigma da "poesia" e o enigma das "armas": A Poesia é Vida. É por isso que nunca foi visto um morto – vivente ou cadáver – escrever um poema notável.
Aqueles a quem a sociedade atribui – se é que a sociedade como um todo atribui o que quer que seja, o que quer que seja A SOCIEDADE – o estatuto de artistas, terão mais tarde ou mais cedo de passar na prova do fogo, na qual, vendo-se repentinamente em Rodes depois de uma longa viagem em que não fizeram outra coisa que não gabarem-se do prodigioso salto que um dia lá deram, ouvirão: - Aqui está Rodes, mostra lá do que és capaz, outra vez!
Nesse momento, já não lhes bastará desenterrar apressadamente as pirotecnias da dialéctica – o seu sensual jogo de cintura; a imagem xamânica dos filósofos capazes de cuspir fogo e dos loucos capazes de destruir igrejas –, ou adquirir todos os fogos-de-artifício que ainda restem algures no mercado negro; admitindo, tarde de mais, que o que é bom tem que deperecer, para ressurgir um dia sob uma forma mais avançada: é que entre o momento dessa consciencialização retardada e o de a lançar aos quatro ventos já a poesia foi liquidada e, com ela, todas as anteriores certezas: Jesus Cristo estará numa esquina à espera do primeiro táxi para se pisgar dali para fora. E eles, bem como os restantes especialistas, estarão desempregados. OU VIVOS.
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