Quarta-feira, 29 de Setembro de 2010

(Res)caldo-verde da visita papal.

uem não se deixou espantar com a escala da campanha securitária montada em nome da saúde do octogenário alemão, Joseph Ratzinger, que solte o primeiro «dahhhhh», porque eu fiquei com um estupor tal que demorei seis meses a remoer o que de facto terá passado pela cabeça dos organizadores do espectáculo e a decidir-me a publicar alguns parágrafos sobre o assunto; deixando, claro, as indigestas questões religiosas para os teólogos, para os fãs do papa e para os ateus militantes.

 

Parece-me evidente que o esquema de segurança montado para defender o Chefe de Estado do Vaticano durante a sua visita, visou a prevenção de incidentes totalmente distintos dos que uma operação desta natureza preveria: não nos esqueçamos que um atentado à vida do papa, ou uma simples tentativa de lhe ir ao vulto, seria logicamente levada a cabo seguindo o método clássico do regicídio: um indivíduo (dois ou três no máximo) rompe o cordão de segurança e faz o que tem a fazer, se o deixarem fazer. A própria tradição dos atentados papicídas, de J.P II, baleado em 1981, à tentativa da judoca que quis derrotar Bento XVI por ippon no Natal de 2009, confirma que o plano das forças de segurança portuguesas tinha intenções veladas: pôr no terreno uma típica operação «anti-terrorista» de larga escala, que a situação - mesmo tendo em conta a possibilidade de um atirador furtivo alvejando o papa a partir de um prédio em qualquer ponto do desfile até à Praça do Comércio - não justificaria; até porque o vidro (à prova de bala) do papamobile tornou obsoleta a intervenção providencial da Nossa Senhora de Fátima.

Assim sendo, tudo parece concorrer para que a visita do papa tenha sido instrumental; um pretexto para demonstrar (e experimentar) a força táctica e estratégica dos meios materiais e humanos para evitar chatices à disposição do Estado Português. Quem reina, e quem governa quem reina, não dorme em serviço, nem olha a meios para deixar cama feita quando se trata se ir deitar com o trabalho de casa feito e a lição estudada.

 

No horizonte dos estrategas da «operação papa» de Maio, esteve sempre presente a mobilização social anti-militarista/capitalista que a Cimeira da Nato desencadeará em Novembro: quando as ruas de Lisboa se encherão de manifestantes e desordeiros; caso o perímetro de segurança da Cimeira não seja alargado até à fronteira da República Portuguesa com o Reino de Espanha... 

Que problemas de ordem prática colocam - do ponto de vista dos movimentos sociais e das suas estratégias de acção - a operação que foi erguida (quando a tourneé europeia de Bento XVI passou por Portugal) e as hipotéticas conclusões dos responsáveis por ela; e o que podemos extrair daí?

As recentes declarações do  presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP) - que admitiu ter a PSP reclamado mais meios logo aquando da visita papal -, vertidas a propósito da polémica com a Associação dos Profissionais da Guarda e em defesa  da compra dos veículos blindados anti-motim para reforçar a operação de segurança da Cimeira, parecem comprovar a tese de que a «operação papa» se tratou de um ensaio geral, através do qual foram detectadas as lacunas de equipamento que vêm agora com escândalo, mas não surpreendentemente, ser colmatadas.

 

Na sua desadequação metodológica premeditada, os arquitectos do plano deixam transparecer vários dados relevantes: 1º Que o Estado Português parece ter muito que provar aos seus aliados no que diz respeito à sua capacidade para engendrar e aplicar um plano de segurança de larga escala, principalmente se o plano requisitar a articulação de diversas forças policiais e militares, e que os responsáveis estão totalmente disponíveis para gastar à tripa-forra para demonstrar os seus talentos repressivos. 2º Que as forças policiais não se sentem confiantes nem seguras quanto aos meios que têm para desempenhar a sua missão de «manutenção da ordem pública»: curioso eufemismo para guarda de falcão de guerra. 3º Que a paranóia securitária tem  limites cada vez menos definíveis e que começa a ser difícil encontrar adjectivos para descrevê-la com acuidade.

 

O dirigente da ASPP radicaliza: "Todo o equipamento de manutensão de ordem pública e pessoal é bem vindo, porque a PSP necessita estar sempre actualizada e de transmitir à população uma mensagem de capacidade e profissionalismo".

Ao que parece, um arsenal que por absurdo transformasse a PSP na força policial mais e melhor equipada da Europa - isto independentemente da escala do país e dos seus níveis e tipo de criminalidade - não seria suficiente para descansar o espírito dos homens e mulheres que têm «de transmitir à população bláblábláblá»: tudo isto para que Portugal se torne um sítio seguro para as passeatas dos papas e acolhedor para as tertúlias das altas figuras da Ordem global...

 

O Capitalismo sente-se acossado pela crise que tem para gerir e o seus braços estatais e militares estão a ficar nervosos com a dimensão da tarefa que têm em mãos: estes são os momentos mais perigosos para quem luta contra eles, mas não menos perigosos para o Capitalismo, ao qual neste momento caem irremediavelmente todas as máscaras. 

Pelas notícias que nos chegam hoje de toda a Europa, as portas de entrada das prisões parecem estar escancaradas para todos os manifestantes mais afoitos; e o bastão autoritário está em riste (mesmo no caso das manifestações mais folclóricas e institucionalizadas).

 

Quanto aos confrontos que inevitavelmente ocorrerão em Novembro, só nos resta esperar que as deficiências das forças da ordem portuguesas e a sua visível desorientação sejam força para o movimento anti-militarista que se propõe  transformar a Cimeira da Nato num campo de combate social. A Cimeira dos Falcões vencerá provavelmente pela desproporção e despropósito dos meios utilizados, mas não ganhará todas as batalhas: além de que o que realmente importa é/são a(s) guerra(s), isto é, acabar com elas.

 

Endureçam os vossos corpos e amoleçam os vossos corações: ponham-se em forma para Novembro. 

 

 Sim,  para o !

engatilhado por Semeador de Favas às 23:34
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Sexta-feira, 24 de Setembro de 2010

Pensamento Desejante: Futurologia Revolucionária.

Esferográfica, Caneta de feltro, lápis de cor e grafite s/papel

21cmX29,7cm

2010

 

A consulta do Tarot de Marselha por um tarólogo especializado não augurará que a caricatura que rabisquei e colori tenha grande futuro concreto no que diz respeito ao destino próximo da França e dos países da U.E em geral - independentemente dos resultados das eleições que se vierem a disputar, mais a mais com os aflitivos sinais que o espectáculo eleitoral tem revelado um pouco por todo o continente: a subida generalizada da extrema-direita e da representatividade das pulsões xenófobas e racistas. Mas este facto serve também para comprovar que estes simulacros de democracia são cada vez mais actos de auto-paródia, nos quais a democracia representiva se esgota e consome nas suas formalidades. Além disso, um número considerável de cidadãos parece encarar cada vez mais o voto como uma forma de castigar os políticos do «arco governativo», mais do que como um modo obsoleto de fazer valer as suas ideias políticas.

Isto não quer dizer que esta forma distorcida de humor e de descontentamento popular deva ser subvalorizada, mas que as forças sociais antagonistas da actual ordem - principalmente os partidos da esquerda institucional (se é que resta alguma esperança para esta, ou capital transformador no seu modelo organizativo) devem repensar seriamente o seu papel dentro desta sociedade e avaliar o seu lugar e o seu percurso dentro deste terreno cada vez mais minado do capital-parlamentarismo vigente; no qual toda a gente parece cavalgar com à vontade e mestria à excepção dos movimentos e forças revolucionárias - que parecem temporariamente ter perdido, passe a metáfora belicista, «noção do seu posto no campo de batalha». Não será tempo de regressar à terra?

 

Evidentemente que esta caricatura não se refere exclusivamente às medidas securitárias e políticas de imigração europeias, personificadas circunstancial e mediaticamente no presidente françês, mas a todos os seus congéneres que em diferentes graus vão cedendo à tendência do poder piramidal e elitista para a barbárie e para o terrorismo, e para descarregar as tensões das crises económico-financeiras nas costas dos mais desfavorecidos (imigrantes; trabalhadores [precários ou não]; minorias étnicas, etc).

A crueldade de que me poderão acusar - admitindo eu desde já não ter estudado a árvore genealógica do personagem - de cravar uma suástica nazi na camisola do boneco Sarkozy - que será descendente de uma família judaica martirizada pelo nazismo - esbarra portanto na referida questão simbólica: dirigentes que revelam as suas verdadeiras cores mal a situação política e económica se inverte e lhes caem (ou são arrancados) os belos fatos da «tolerância» e do «multi-culturalismo». No que diz respeito a Sarkozy, bem... é figura com bastantes provas dadas no que diz respeito à gestão dos conflitos sociais: as suas leituras (desses conflitos) e as consequentes práticas repressivas, quando foi ministro do Interior, falam por si.

O vírus do autoritarismo e do fascismo desenvolve-se pois onde quer que lhes seja dado espaço para germinar, sem dar conta dos genes do hospedeiro.

Haverá alternativa à revolução? Com certeza que sim: tudo ficar na mesma.

 

Claro que tudo isto é uma simples caricatura.

engatilhado por Semeador de Favas às 08:34
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Terça-feira, 21 de Setembro de 2010

Pirete à escala humana (contra os lucros astronómicos da GALP).

 

É apanágio das grandes corporações (seja qual for o tráfico a que se dedicam) erigirem sobre as cidades enormes falos de aço, betão e vidro: com os quais simbolizam o seu poder hegemónico erguido sobre a totalidade do corpo social (maneira suavemente sociológica de dizer que nos fodem 24 horas por dia sete dias por semana).

O espaço roubado para a construção destes monumentos é directamente proporcional à rentabilidade do negócio; não são por isso espantosos  os milhares e milhares de quilómetros que nos são usurpados para que as diversas empresas multinacionais possam medir e ostentar o tamanho das suas pilas: aquilo a que se convencionou chamar de «propriedade privada».

Só neste bloco de catedrais do capitalismo (Torres de Lisboa) que a objectiva da máquina fotográfica me permitiu captar existem, para além das duas estruturas da GALP, uma ode arquitectónica do BPI (Banco Português de Investimento) à economia de mercado e à sua mercadoria de troca (dinheiro), e uma outra dispensada ao mercado (privado) da saúde, o British Hospital.

Ora bem, este circo está montado em cima de terrenos de uma zona em que sobram vestígios de uma certa realidade social em tempos maioritária - hortas urbanas particulares nas quais ainda alguma gente atrevida cultiva parte da sua subsistência alimentar. Portanto, enquanto ali estive sentado à espera do autocarro, permiti-me sonhar com a implosão daqueles não-lugares e com o consequente aproveitamento do espaço para a construção de uma grande horta comunitária, da qual o sucesso dependeria exclusivamente da transmissão do conhecimento técnico e prático dos agricultores amadores da zona (capazes de produzir vistosas couves, abóboras, nespereiras e laranjeiras, entre outras), à comunidade.

 

Como podem ver, este bicho, tem dois olhinhos cor de laranja muito fofinhos e bonitos - sinal de boa nutrição - com os quais vela pela sua segurança.

engatilhado por Semeador de Favas às 13:57
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coming soon, in a near future, in a metropolis near you...

Squatting Rebels of International rt Terror foundation

engatilhado por Junco Julieta Túbaro de Guindaste às 02:10
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Sexta-feira, 17 de Setembro de 2010

Ponto (e vírgula) de situação: com uma dedicatória (e um brinde) especial aos companheiros Nata de Tsicac, Pinano e Junco Julieta.

Quando há pouco mais de três anos atrás iniciámos este projecto, então com bem mais companheiros - e colaboradores - a bordo, do que os actuais quatro irredutíveis alentejanos que restam - não tinhamos um percurso (individual ou colectivamente) delineado, daí (talvez) que os que já não nos acompanham nesta misteriosa aventura tenham seguido o seu próprio caminho.

Esta nossa redução a um núcleo fluído, porém compacto, de companheiros, teve contudo a virtude de aproximar quatro pessoas que, apesar das diferentes maneiras de estar, ser, e pensar, mantêm uma amizade forte o suficiente para resistir ao desgaste (quase sempre bastante saudável) resultante do embate das perspectivas.

Da minha parte, ou seja, do meu contributo pessoal para este projecto (que se tornou, enfim, bem mais que um simples projecto...), reconheço a progressiva radicalização dos seus pressupostos (inicialmente vagos), através da fusão das minhas reflexões e experiências sobre arte com o meu pensamento sobre a política; a sociedade; enfim, o que lhe quiserem chamar.

Mas, se a certeza fundadora que nada mais quero aprender sobre Arte - que não o que me diz que quero apenas saber da Arte o que ela tem a dizer sobre a vida - e sobre o que falta inventar para a vida ser realmente Vida -, cresceu a par da minha não menos crescente ligação à ideia anarquista; à comunista; enfim, à Cultura Libertária, também esta (radicalização) não se tornou em si mesma suficiente para alcançar aquilo que julgo ser o objecto definitivo do meu desejo (partilhado por muitos, mas não ainda os suficientes): do qual ainda só reconheço formas difusas; esboços; centelhas por atiçar. É preciso - para além da tarefa indispensável de destruir a ilusão de que a Arte é um reduto-oásis de liberdade, com a qual tantas vezes se desiste de enfrentar o desafio da Vida - ultrapassar o vírus que por vezes ataca a mente dos libertários mais consistentes e conscientes da sua posição ultra-minoritária (mas indispensável) no conjunto dos movimentos sociais existentes, a saber: o de se julgarem, ou comportarem, como «especialistas da Liberdade», caindo com essa atitude na esparrela da ideologia: em que caem invariavelmente todos os que se julgam iniciados em algo que não eles próprios enquanto indivíduos isolados por uma sociedade atomizada.

Resolver esta equação é, antes de mais, assumirmos que somos artistas e anarquistas, sem esquecermos as distorções ideológicas e as contradições próprias da nossa condição precária; minimizando assim o facto de tal projecto (de fusão total desses dois factores) estar ainda fragilmente assegurado.

Aos companheiros - Nata, Pinano, Junco - tenho a declarar o meu amor incondicional e por ventura louco, com o qual espero manter-vos a meu lado enquanto procuro e vocês procuram (o que quer que andem à procura) - na Art Terror Foundation e fora dela. Sim, porque há muitos foras a conquistar onde poderemos diluir esta mistura explosiva que produzimos cá dentro.

 

Notas Sentimentais para os Companheiros Radicais:

 

À Nata: Por onde quer que te percas e encontres - porque suspeito que te encontrarás e perderás em locais bem diferentes dos meus - afirmo que nunca será suficientemente longe para que te vede a porta dos meus sonhos.

 

Ao Pinano: Que as bruscas passagens, solavancos e acelerações e desacelerações da vida não te arranquem do espírito a habilidade para semear o que quer que te alimente, e o engenho para fabricar as armas para destruir o que quer que te atormente.

 

Ao Junco: Que entre o fluxo-refluxo das marés venha um dia, uma onda gigante contigo à crista e as mãos cheias de tesouros roubados na tua viagem.

 

A todos os que nos acompanham (de perto ou à distância de segurança): Somos um segredo bem guardado mas temos a porta aberta: quer para os que estão saírem, quer para os que não estão entrarem.

 

Nem guerra entre os povos, nem paz social (enquanto reinar esta ordem): Continuemos!

engatilhado por Semeador de Favas às 13:35
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Sábado, 11 de Setembro de 2010

Há vida para além da cosmética reformista: introdução ao estudo do «fetichismo revolucionário» vs «fetichismo da mercadoria» e da podofília (fetiche de pés)

 

 

Quem deixou de saber como usar os pés é como quem deixou de saber como usar a cabeça. Evidentemente, esta asserção não exclui que se possam usar os pés sem usar a cabeça: caso do Capitalismo Terminal e dos seus ideólogos que, em descontraída manutenção - apesar da crise e a cavalo nela - dos seus lucros e do seu estatuto de controladores da vida, vão propondo que se pontapeie da frente  da sua longa marcha os poucos obstáculos que ainda restam -consoante os países e a sua evolução capitalista própria feita no interior da ordem global - de anos, décadas e séculos de lutas sociais (direitos laborais, políticos, etc); confiantes de que o trabalho de sapa ideológico, realizado pelos seus órgãos de doutrinação de massas («Informação Independente»), extinguiu para sempre o fogo da revolta...

No lado revolucionário (umas vezes com aspas, outras nem tanto) as coisas parecem correr no sentido inverso: a produção teórica, isto é, o uso dos mecanismos da cabeça, logrou  subalternizar de tal modo o uso dos pés que por vezes é impossível distinguir a quem se dirige a literatura revolucionária... se a um público especializado de iniciados nas diversas teses concorrentes; se a cada uma das pessoas a quem a proletarização da (sua) existência empurrou para uma atitude refractária face aos desígnios da mercadoria, e a partir daí para uma situação potencialmente explosiva e pré-revolucionária.

O facto de não se conseguir ler ( eu pelo menos tenho tido dificuldades em encontrar exemplos contemporâneos)- salvo excepções como a recém traduzida L`Insurrection qui Vient do Comité Invisível, disponibilizada aqui pela RádioLeonor.org em formato pdf - obras que procurem indicar eventuais fissuras e fracturas na actual ordem capitalista, e no conjunto das suas estruturas obsoletas - e isto independentemente da ferocidade da crítica e do seu arcabouço conceptual -, é por si só indicio de uma capitulação generalizada; de uma desorientação da intelectualidade de esquerda, reveladora do seu pacto involuntário com uma das mais tradicionais fórmulas mercantilistas, a saber: o de fornecer um produto que não obstante o seu aspecto polido, os seus magníficos acabamentos e a forma charmosa como é vendido (embalagem), jamais oferecerá o conteúdo virtual - transformado em mera substância fantasmagórica e aurática -  que em primeiro lugar conseguiu atraír o consumidor. A teoria produzida segundo esta fórmula é tão passível de produzir e sustentar acção quanto é provável encontrar, por exemplo, um homem a quem a utilização diária de determinado desodorizante permitiu a conquista de um harém de mulheres jovens e voluptuosas, incapazes de resistir ao seu odor encantatório comprado no supermercado.

Deste modo, a procura sistemática de formas puramente teóricas de transmitir conhecimento revolucionário, é a perseguição de um engodo que nos conduzirá a ferrar um anzol com uma deliciosa refeição à barbela da qual nunca desfrutaremos durante o nosso tempo de vida.

A grande tragédia do pensamento não-conformista é pois o de se ter esvaziado por culpa própria do valor de uso sem o qual não passa de mais uma mercadoria instalada, entre outras mercadorias de menor valor, no seu valor de troca.

Não se encontram, pois, autores que afirmem abertamente que a revolta arde onde quer e por vezes onde e quando menos se espera; sem dar conta de que estejam (ou não) reunidas as condições objectivas e subjectivas para a concretização de intenções revolucionárias.

É preciso voltar a dizer a estas cabeças (teoria) que os pés (prática) nos (e lhes) fazem muita falta. A separação destas duas dimensões é uma premissa reaccionária, como é reaccionária a separação dos pés da cabeça. Daí que a teoria revolucionária, venha ela de onde vier, tem de ter (e usar) pés e cabeça, de preferência simultâneamente (que estes apêndices estejam ou não bem assentes na terra é absolutamente secundário).

A teoria e prática devem brotar da mesma nascente e correrem juntas até ao mar.

A unica maneira verdadeiramente revolucionária de amar e cultivar as coisas passa por compreender o seu potencial revolucionário, isto é, o contributo que cada uma delas pode dar para a causa da apropriação individual e colectiva de todos os aspectos materiais e espirituais - separados pela lógica capitalista - necessários para a construção da Vida Total (plenamente vivida).

No capítulo V (Desordens mentais e do comportamento); sub-capítulo Desordens da personalidade e do comportamento em adultos; alínea Desordens da preferência sexual (parafilias) - a World Health Organization, na 10ª revisão de International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems (2007) descreve o fetichismo como a «Dependência, como estímulo para a excitação sexual e gratificação sexual, de alguns objectos inanimados. Numerosos fetiches são prolongamentos do corpo humano, tais como artigos de vestuário ou calçado. Outros exemplos comuns são caracterizados [pela preferência] por uma textura particular como a borracha, plástico ou couro. Os objetos fetiche variam na sua importância para o indivíduo. Em alguns casos servem simplesmente para reforçar a excitação sexual, atingida de forma normal (por exemplo, tendo o parceiro a usar uma roupa especial)». É sabido entre a comunidade cientifica que o «fetiche de pés» (podofília) é a mais comum, porque também (na maioria dos casos) bastante inofensiva, «desordem» da sexualidade. Mas os pés, para além de serem populares objectos de «desejo desviante», são também uma parte importantíssima do corpo humano. A Dr. Joana Azevedo (podologista) resume no seu blog aspectos essenciais que devemos ter em conta:

«Os pés são o único ponto básico do aparelho locomotor, que assegura a posição erguida (bípede), intervindo nesta função os músculos que actuam sobre a cabeça e tronco, as ancas e as pernas. Qualquer alteração da dita posição significa a afectação de todos os elementos que contribuem para a dinâmica do corpo.Daqui se conclui que o estudo do pé não pode ser isolado do restante aparelho locomotor; como estrutura complexa que é, necessita do suporte, apoio e interacção de ciências distintas que complementam esta formação integrada. Os pés são também a base de sustentação do organismo humano, são eles que suportam o peso do corpo, ficando sujeitos a uma enorme tensão. Além de suportarem o peso do corpo, os pés estão sujeitos a um enorme desgaste. Por exemplo, os pés de uma pessoa de 70 anos fizeram um percurso equivalente a 3 vezes a volta ao mundo.»

Entretanto, todos os podólogos são unânimes quanto à incompreensível negligência a que estas extremidades corporais são sujeitas por parte da generalidade da população; não obstante o reconhecido alcance sexual que lhe é atribuído, e a sua importância para o bem-estar físico.

Por outro lado, o crescente reconhecimento de que o Homem foi evolutivamente desenhado para correr - e que esta característica se consubstancia na anatomia do nosso pé - deve-nos alertar para a nossa fraca consciência acerca das vantagens que resultariam de uma boa aplicação dos conhecimentos teórico-práticos (científicos e empíricos) sobre pés.

Devemos portanto dispensar aos nossos pés, no mínimo, a mesma atenção demonstrada pelos únicos humanos hoje capazes de executar a tarefa de cuidar dos pés: nomeadamente aqueles(as) que recorrem aos podólogos afim de obterem uns pés bonitos, capazes de suscitar (através deles) interesse sexual nos outros humanos e a excitação sexual no(s) parceiro(s) - por contacto directo ou visual - seja ele um podófilo experimentado ou não.

Ideal e revolucionariamente esta situação deverá ser superada por um estágio em que o amante de pés já não se limita a usufruir (fetichistamente) da vertente estética e sexual das suas extremidades inferiores, apoderando-se agora das suas capacidades motoras inatas, a saber: correr (fuga e perseguição) pontapear e espezinhar.

 

Sabotagem: O capitalismo será tão mais facilmente derrotado quanto mais baixos forem os golpes que estivermos dispostos a aplicar-lhe.

Na 36ª tese de A Sociedade do Espectáculo, Guy Débord, afirma que:

«É  pelo princípio do fetichismo da mercadoria, a sociedade sendo dominada por "coisas supra sensíveis embora sensíveis", que o espectáculo se realiza absolutamente. O mundo sensível é substituído por uma selecção de imagens que existem acima dele, ao mesmo tempo em que se faz reconhecer como sensível por excelência.»

A maior parte das vezes o «senso-comum» - uma das abstracções mais permeáveis à ideologia mercantil e ao seu jugo- manda que os pés servem sobretudo para fugir das ameaças externas (polícia; neo-nazis com bastões e soqueiras; etc). Em parte esta asserção está correcta; o problema é quando ela se transforma numa posição dogmática regrada pelo medo da confrontação: que estipula quem são os predadores e as presas sem que estas posições fixas jamais possam ser invertidas e, portanto, devidamente superadas por uma sociedade sem classes; hierarquias artificiais; exploração; etc.

O pé é portanto, em geral, um recurso biológico subaproveitado, entregue ás forças sociais mais reaccionárias e retrógradas: da moda especializada, à extrema direita militarizada, passando por todos os quadrantes do capitalismo enquanto crime organizado e força terrorista internacional.


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Quarta-feira, 1 de Setembro de 2010

Grande Salto Mortal Em Frente: Liquidação Total.

 

A campanha Grande Salto Mortal Em Frente contará com a expropriação em nome do povo (nós) de anúncios de tv, outdoors e o mais que nos fizer detonar as forças produtivas do espírito, além de aventuras publicadas nos sítios da ATF (blogue e facebook).

Em comentário ao Briefing desta operação, Semeador de Favas (eu) referiu que outro objectivo da Art Terror Foundation é fomentar a experimentação da teoria, de modo que o activista confirme os seus benefícios na vida quotidiana. “Queremos que as teorias sejam realmente testadas e comprovadas. Assim, “nos nossos pontos de encontro (físicos e virtuais) já está disponível uma promoção ‘leve tudo pague nada’”, afirma. O target da campanha são, segundo o arterrorista citado, “homens e mulheres - de preferência crianças e adolescentes -, dos 0 ao 150000 anos (ou mais) , que pretendam manter os príncipios e objectivos revolucionários intactos e operativos”.

engatilhado por Semeador de Favas às 23:16
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