Contra o pensamento dos mortos-vivos, o pensamento dos vivos-mortos:
Da esquerda para a direita, em cima: Karl Marx; Rosalind Krauss; George Nada; Rosa Luxemburgo; Guy Debord e Joseh Proudhon.
em baixo: Theodor W. Adorno; André Breton; Walter Benjamin; Benjamin Péret e Antonin Artaud.
Formação e movimentações no campo (por expandir):
No fim do dia, apenas se salva o belo rosto da Scarlett Johansson.
Encontrei por acaso, amarrotada no banco do metro, esta cópia do jornal de distribuição gratuita METRO. Impressa estava, nas parangonas da primeira página, a sensacional e seguinte brutidade: «Copiar Faz escola em Portugal». E o respectivo subtítulo: «Entre os alunos portugueses 60% assumem publicamente que copiam nos testes. Eles mais do que elas e os alentejanos acima da média nacional."Treino começa logo na Primária.»
Até aqui julgava eu estar perante uma vulgar estrumeira estatística, daquelas que dão bom composto para adubar a camarilha da opinião e do comentário nos estúdios e nas redacções: mas não. Trata-se de um estudo académico sério, realizado portanto (perdoem-me a eventual ingenuidade) segundo rigorosos padrões de cientificidade, por especialistas da área da sociologia.
Segundo o artigo, o professor da Universidade do Minho responsável pelo projecto, avançou «para perceber a verdadeira dimensão do "copianço" nas escolas portuguesas e deparou-se [Valha-nos Deus nosso Senhor Jesus Cristo!] com uma realidade assustadora:"No ensino superior a predisposição para copiar é quase universal".»
Pergunto-me qual o interesse em saber a «verdadeira dimensão» do copianço?
Provar que os jovens portugueses são cábulas?
Não tenhamos quaisquer dúvidas: este artigo foi despejado em plena época de e(n)xames para dar respaldo científico às medidas ultra-securitárias a que, durante estes dias, o Ministério da Educação obriga toda a comunidade escolar: professores; auxiliares educativos e estudantes. Esta transformação sazonal de pessoas socialmente encarregues da missão de educar em polícias; e de crianças e jovens exercendo o seu direito a aprender em potenciais criminosos, devia originar uma sublevação no espírito dos sociólogos. Mas parece que o problema é haver quem copie numa coisa que não tinha que existir. E não devia existir não porque a avaliação, ou qualquer instrumento que sirva para o aluno medir aquilo que aprendeu ou não aprendeu, seja algo demoníaco, mas porque o exame, tal qual está instituído, é um espécie de imposto - ou na pior das hipóteses um tribunal -, a que o estudante se deve submeter a fim de justificar, perante um corpo de fiscais e juízes, se valeu a pena o dinheiro investido pela família expandida (Estado) -e pelo Estado atrofiado (família) - na sua formação.
Por outro lado, existe a «ideologia do mérito»: um lobby que afirma a necessidade de suspender à frente do nariz do estudante uma cenoura chamada nota - mais tarde (na sua «vida profissional») substituída pelo dinheiro vivo - para fazê-lo marrar mais que o vizinho. A ideologia do mérito serve ainda para o Estado racionar o número de estudantes que entram no ensino superior, onde «a predisposição para copiar é quase universal». O raciocínio oficial é o seguinte: a educação é um direito mas não exageremos. Acontece também que esta ideologia é cozinhada através de uma mistura explosiva de facilitismo e mérito. «O exame é indispensável», afirmam todos os meritólogos; «desde que seja fácil», promovem os facilitistas. Ambos, irmanados nesta salada de Verão, mantêm o absurdo dos exames intocável: os meritocratas não conseguem acabar com os exames fáceis, e os facilitólogos não conseguem acabar com os meritocratas. Quem se fode e fica fodido é o mexilhão, os alunos e os professores, quer dizer, os professores e os alunos que ainda não tenham sido contaminados pelo vírus do conformismo; para os restantes «é a vida».
Ora seria importante contextualizar a questão do «copianço» na ignomínia destes exames faz de conta: façam de conta que aprenderam, façam de conta que estudaram, mas façam conta com o exame. Mas que misterioso suplemento de alma poderá ser servido aos jovens, a fim de os fazer estudar e crer naquilo que estudam, se, logo à cabeça, os querem convencer que os exames são fáceis e que as matérias que os querem fazer estudar foram preparadas em regime de readers digest para embotados?
O copianço, nascido sob estas circunstâncias, só pode espantar quem julgue que a vontade de aprender se possa mobilizar à porrada; ou através de advertências como «estuda filho, e não copies que é feio.» Mas, o pior de tudo, é a lata do sociólogo responsável por essa pérola da academia invocada pelo Metro. Procurei ler mais alguma coisa sobre a sua obra - o «romance» apocalíptico "O copianço na universidade: o grau zero na qualidade" e descobri tiradas realmente esclarecedoras como: «tendencialmente os alunos que querem copiar são os primeiros a chegar à sala de aula, para escolher os lugares que os colocam mais na zona de sombra do olhar e da atenção do professor»; «As cábulas podem ser colocadas em canetas, bolsos, nas próprias provas do exame, nos tampos das mesas, até aos métodos mais sofisticados como máquinas de calcular ou telemóveis»; «ligações telefónicas do interior da sala para o exterior».
Esta exposição detalhada da técnica do cabulanço roça, digo eu, perigosamente a delação e não acrescenta uma linha aos manuais de bem cabular que podemos encontrar em forma de vídeo ou de texto na web. Portanto, não só é delatório como inútil ,visto que não ensina nada de novo a quem quiser usar cábulas.
E, isto, leva-nos a pensar sobre uma questão (mais geral mas) que tem a sua pertinência. Quando os sociólogos (e poderíamos falar de qualquer outro especialista) se põem a trabalhar à peça - e perdem a perspectiva da totalidade - só podem reproduzir banalidades soporíferas. E contra isso, de nada lhes valem as extrapolações que consigam fazer do seu estudo separado, para outra dimensão qualquer da vida; ou as pontas espigadas que tentem puxar da realidade social para dentro dos seus bacamartes de 450 páginas. É que mesmo que o motif desse estudo seja identificar um nexo entre a prática da cábula e do copianço e a cultura da corrupção na sociedade portuguesa - algo que eu jamais faria mas admito ser plausível e eticamente saudável - seria necessário afirmar uma critica total da sociedade que gera essas dinâmicas ; não basta esboçar, cabulamente, caricaturas científicas que se assemelham a relatórios policiais ou a resumos de lições de moral de pacotilha...
Enfim, os números do copianço não são um reflexo do nosso mítico culto do laxismo e da bandoleira, mas um atestado da estupidez dos sistemas de exame e avaliação existentes. Fogo neles
Anexos:
Criança atacada por um bando de sociólogos: depois de ser apanhada a cabular na sua «prova de aferição» de Língua Portuguesa do 4ºano do 1ºciclo do Ensino Básico.
Receita de Sociólogos à portuguesa:
receita do chef Edu Cação.
Ingredientes:
2 kg de sociólogos
2 c. sopa de azeite
3 dente(s) de alho
1 cebola(s)
1 folha(s) de louro
orégãos
q.b piripiri em pó
q.b sal e pimenta
Confecção:
1. Leve os sociólogos ao lume numa panela de água (dois ou três dedos acima dos sociólogos).
2. Junte o azeite, os alhos, a cebola cortada em quartos, o louro, os óregãos e tempere com sal, pimenta e piripiri.
3.A fervura dve ser suave e longa (cerca de 2 horas) e a espuma retirada de vez em quando.
Conserve-os no líquido da cozedura até à altura de servir.
4. Sirva quente em pratinhos com um pouco de caldo.
Introdução ao tema:
1. Alegoria de Fim de Carreira, fotomontagem (2010)
2. A festa da Democracia, fotomontagem (2010)
Introdução à coisa propriamente dita:
É sobejamente conhecido o amor incondicional que a generalidade da intelectualidade portuguesa nutre pelo século XIX. Esse sentimento, que chega a ser enternecedor para o espectador da cultura, manifesta-se pela devoção (+ ou -) acrítica aos escritores da Geração de 70 (Eça, Ramalho, Antero, etc, etc, etc) que a história tratou de canonizar nas cátedras de literatura e história da arte de todas as universidades. Esta mais do que justa homenagem a uma geração realmente brilhante - trágica e logicamente rematada num punhado de «vencidos da vida»- transformou-se num mito insuperável: nada do que venha depois dela - Fernando Pessoa; Cesariny; Herberto Helder..., - pode fazer os literati e os bardos nacionais destruir o panteão onde anicharam os seus (e nossos) tetravós.
A razão dessa irredutibilidade espontânea - sustentada pela crença patafísica de que todos os diagnósticos e remédios (dos males portugueses) para os séculos XXI, XXII e XXV foram feitos há 140 anos atrás - é compreensível, se não vejamos o que escrevia Abel Botelho:
«A organização da sociedade actual, meu amigo, está minada de vícios estruturais, cheia de crueldades de ordem legal e ordem moral, e sobretudo é revoltante pelas suas injustiças económicas. É uma sociedade ainda sem liberdade, sem igualdade, e portanto iníqua. É contudo bem melhor que o passado. Temos que amar nela, acima de tudo, o incessante sopro renovador, o ardente ímpeto revolucionário que, como uma locomotiva em marcha, na sua grande alma colectiva arfa e palpita, e que logicamente há-de acabar por destruí-la... fazendo por seu turno sair dela uma sociedade melhor».
Mas ser compreensível não torna legítima a sua reiterada reprodução em forma de conformismo esclarecido e pessimismo endémico; como se existisse qualquer fado misterioso - inscrito nos genes dos que, por pura coincidência óvulo-espermática e outros acasos biológicos, nasceram nesta parte do globo - que os faz confundir pessimismo com criticismo e fatalismo com realismo. Todavia, isto não significa que o cepticismo ou o optimismo idiota sejam uma alternativa a esse estado de alma, torna sim necessária a reabilitação de uma atitude duplamente refractária; que possa destruir em simultâneo, e efectivamente, as duas faces dessa moeda paralisante. Precisamos de corações avessos tanto à ideologia da decadência quanto à ideologia do «este é o melhor dos mundos possíveis», para demolir os mitos que construíram para nos tornar passivos; e com eles esta sociedade parida de cima para baixo e de pernas para o ar que é uma trituradora de carne humana e uma fábrica de nado-mortos e de mortos-vivos - que muito em breve (assim o espero) entrará em falência absoluta depois de uma greve selvagem de proporções até hoje desconhecidas.
A minha recém falecida «vida académica» (que a terra lhe seja pesada), facultou-me o contacto quase diário com os produtos desse século(XIX)-fetiche, com o qual nada mais posso fazer que não seja brincar com os seus escombros, através de bonecos e citações avulsas: servidas à medida de todos e de cada um que possuam um sentido de humor revolucionário.
Aí vai então, caras e caros amig@s, uma série (que não sei quando estará terminada) de «fotografias retocadas» dos cromos favoritos da academia. Pintores e escritores, portugueses e franceses: pois não sabemos já que os primeiros não sabiam viver sem os segundos?
Beijos e Abraços,
Semeador de Favas.
A coisa propriamente dita:
Abel Botelho à Lagareiro,
grafite sobre fotocópia e photoshop
2010.
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